A ÉTICA DO DEVOTAMENTO TE AFETA DE QUE MANEIRA?
Mulheres e homens tem sido programados a milênios para funcionarem seguindo determinadas regras, determinadas formas, determinados sentimentos… Afinal não, não somos uma página em branco onde se pode fazer o que bem entender, quando quer e onde melhor aprouver!
Ledo engano acharmos que a igualdade de direitos e obrigações, a busca incessante pela dessexualização das tarefas cotidianas e das profissões fazem de nós – geração livre das amarras – pessoas que escrevem suas próprias músicas numa partitura vazia.
Não ficarei aqui trazendo referenciais sobre genética, biologia ou mesmo dados sobre as sociedades e seu (des)envolvimento, mas focarei nas questões relacionais, que afetam de uma maneira mais carregada ou sutil todas as pessoas, cada qual com suas histórias de vida e crenças limitantes. Durante muitos anos ouvindo e observando casais em seu ponto mais crítico (tratativas de divórcio, com ou sem violência) tenho algumas constatações que são, no mais das vezes, balizadas por estudiosas (os), destes fenômenos humanos.
Séculos de choro, suor e lágrimas para conquistar a tão almejada LIBERDADE e hoje vejo o quanto muitas pessoas estão exauridas por terem opções e escolhas o tempo todo. Já notaram que nem sempre escolher é fácil, ou cômodo? Sabe aquela reclamação clássica dos casais: “eu tenho sempre que decidir tudo, pois ele não se responsabiliza por escolher nada, nem pra isso me serve!” ou no revés: “sou obrigada a engolir tudo que ele quer, nunca posso fazer o que sinto vontade, ele me banca e manda em mim, fazer o que?!”….. o inverso também vale para os raros casos onde os homens é que proferem essas “chatices de casal”.
Estamos num estágio onde nos consideramos autônomas, onipotentes, donas do nosso próprio destino. Contudo, ao mesmo tempo, gostaríamos de sermos protegidas, acolhidas, mimadas, afagadas em nosso imenso ego que clama por elogios diários e “sinceros” dos nossos parceiros e parceiras (falo de casais hetero e homo, tanto faz). São tantos paradoxos que ficamos cansadas de gastar tanta energia vital com escolhas e mais escolhas.
Vejo que por vezes as mulheres gostariam de voltar a “desfrutar” de uma simples ética do devotamento, onde são “culpadas” de tudo, mas como não possuem escolhas não podem ser responsabilizadas e fica bem mais fácil, achar que tudo está como está, simplesmente porque o outro determina que seja assim.
Infelizmente fomos ensinadas, em maior ou menor medida, a sermos cuidadoras, carinhosas, maternais, multifuncionais, desejáveis, recatadas, cheirosas e arrumadas, sexys ao mesmo tempo (sem exageros pra não parecermos “mulheres da rua” rsrsrs) …. affffff e termos a casa impecável, filhos impecáveis, um marido bem “cuidado”, um trabalho de destaque, glamour nas viagens, inteligência emocional sem limites, jogo de cintura em todas as situações, etc.etc.etc…..
Divisões maniqueístas são as mais fáceis de se aceitar, afinal não envolvem reflexão acurada. Mas vale mesmo a pena ficar nesta lógica de bonito ou feio, quente ou frio, amor ou ódio, dentro ou fora, esquerda ou direita, feliz ou com ranço da vida???? Se voltarmos a ética do devotamento, onde nós mulheres fomos talhadas para agradar de forma integral nossos parceiros/parceiras, filhas e filhos, parentes, chefes e amigos o dualismo simplista confortaria muitas de nós exaustas por ter escolhas em demasia que levam a uma, poderosa e pesada, auto responsabilidade libertadora.
Ei você que me lê!!! Já se pegou preocupada por seu marido sair com a roupa amassada e achar que irão na rua dizer que a “esposa desleixada” nem cuida deste marido trabalhador que somente pede um pouco de zelo em troca de TUDO que ele faz pela família. ??????
Afinal somos ou não mulheres livres???? A ética do devotamento te facilita ou te prejudica??? A única certeza que tenho é que ela te afeta sempreeeeee.
Essa é a minha reflexão, outro dia falaremos mais sobre isso se você quiser!